Sirvamos a grande causa do Advento do Senhor

Verbo Pai
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O Senhor Jesus chamou André em primeiro lugar entre todos os Apóstolos. Ele encontrou primeiro a seu irmão Simão e disse-lhe: «Encontrámos o Messias» (que quer dizer Cristo). E levou-o a Jesus. Fitando-o, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, filho de João; chamar-te-ás Celas» (que quer dizer Pedro) (Jo. 1, 41 s).
 
Este particular, referido no Evangelho segundo São João, requeria de há tempos que eu fosse visitar a antiga Sé dos Patriarcas em Constantinopla, a qual venera, de modo especial, Santo André Apóstolo; e requeria que eu o fizesse exatamente a 30 de Novembro, no dia ligado, pelo calendário litúrgico da Igreja tanto ocidental como oriental, com a recordação daquele que o Senhor Jesus chamou em primeiro lugar. Hoje quero agradecer à Providência divina esta visita, que tanto desejei e que — dominada por um especial sopro daquela eterna Sabedoria, adorada durante tantos séculos na igreja sobre o Bósforo — se veio a realizar com reforço de ambos os que percorrem agora os caminhos, que abriram o patriarca Atenágoras I e os meus grandes Predecessores, os Papas João XXIII e Paulo VI.
 
Se é pois lícito apelar para a analogia que deriva do acontecimento evangélico, o sucessor de Pedro na Sé romana deseja hoje exprimir a satisfação que experimenta por ter ouvido o apelo vindo do Oriente — daquela Sé que rodeia de particular veneração André, irmão de Pedro —, por ter ouvido e ter correspondido a tal chamamento. Graças a isto, de novo se encontrou na presença de Cristo, o confirmador da vocação de Simão Pedro que Lhe fora trazido pelo laço fraterno que o unia com André.
 
E, agradecendo à Providência divina que, nos últimos dias antes do princípio do Advento, dirigiu os meus passos para o Oriente, desejo ao mesmo tempo agradecer a todos quantos, na qualidade de executores da Providência, tomaram sobre si os múltiplos encargos humanos necessários para tornar possível tão importante visita. Penso em especial nas autoridades turcas, a começar pelo ilustríssimo Senhor Presidente da República, e penso no Governo e no Ministro dos Estrangeiros. Esta visita ofereceu a oportunidade de me encontrar com eles e de trocar, com grande utilidade, experiências e ideias sobre temas tão importantes para a convivência das Nações e dos Países em todo o mundo e, em particular, naquele ponto importante do globo, que é quase uma Porta da Europa e da Ásia. Assim a imediata prontidão em receber o hóspede de Roma, como também a grande solicitude pelo decurso e pela segurança de toda a viagem, merece a minha especial gratidão, que mais uma vez desejo exprimir neste momento.
 
Embora o objetivo principal da minha visita fosse o «Fanar», sede do Patriarcado ecuménico em Istambul, a recente viagem deu-me todavia ocasião de me encontrar também com a comunidade arménia na pessoa do seu Patriarca Kalustian e do Arcebispo católico Tcholakian. A Igreja Arménia ortodoxa está empenhada num intenso diálogo com a Igreja Católica, em particular desde a memorável visita a Roma de Vasken I, que é chefe, isto é «catholicos», dessa Igreja, que tem o centro em Etchmiadzin. A visita realizou-se em Maio de 1970. A Igreja Arménia católica, que se encontra em plena comunhão com a Sé apostólica de Roma, conta no mundo inteiro 150 mil fiéis. Também para todas as comunidades arménias vai o meu pensamento e a minha gratidão. Desejo, além disso, recordar os representantes da comunidade hebraica, com quem pude encontrar-me por ocasião da liturgia realizada na catedral católica latina, dedicada ao Espírito Santo, em Istambul.
 
Considero o encontro com o Patriarca Dimítrios I como fruto de especial ação do Espírito Santo de Cristo, que é o Espírito da unidade e do amor. Precisamente neste espírito decorreu o encontro, que deste espírito deu aliás testemunho. O seu momento culminante foi a oração comum, dando-se a recíproca participação na liturgia eucarística, embora não tenhamos ainda podido partir o Pão juntos e beber o mesmo Cálice. A participação deu-se, primeiro na vigília de Santo André, à tarde, na catedral latina do Espírito Santo, onde o Patriarca Dimítrios I esteve conosco (como também o Patriarca arménio), e onde trocamos solenemente o ósculo fraterno de paz, dando juntos, no fim, a bênção. E, em seguida, na solenidade mesma do Apóstolo na igreja patriarcal, onde me foi consentido, como a toda a Delegação da Sé Apostólica, não só participar na esplêndida liturgia de São João Crisóstomo, mas também renovar eu, com a mesma alegria dos cristãos presentes, o ósculo de paz com o meu Irmão da Sé do Oriente, tomar a palavra e, sobretudo, ouvir o discurso desse Irmão.
 
Quão profundo amor não manifestou ele pela Igreja e pela sua unidade, sempre tão viva no desejo de Cristo! Ao mesmo tempo, quanta solicitude, cheia de amor, pelo homem no mundo contemporâneo! O grande mistério da «Divindade e da humanidade», tão maravilhosamente aprofundado por toda a tradição oriental patrística e teológica, é a mais abundante fonte desta solicitude.
 
O Patriarca disse: «É também a paz e a bondade que nós desejamos e procuramos, tanto para a Igreja como para o mundo. É, buscando este santo objetivo comum, que nós nos encontramos ... Em tal caminhada, foi Jesus ressuscitado que esteve presente ... Por isso, quer dizer, tendo em vista esta comunhão plena e a fracção do pão, é que uns e outros seguimos a par até hoje».
 
Se, pois, temos direito de repetir, com São Paulo, o amor de Cristo nos constrange (2 Cor. 5, 14), então hoje este amor de Cristo assume a forma particular da solicitude pelo homem e pela sua vocação no mundo contemporâneo, tão prometedora mas também tão inquietante. E, por isso, juntamente com o diálogo teológico, já tão necessário, que deve começar proximamente entre a Igreja católica e a Igreja ortodoxa no seu conjunto (isto é: com todas as Igrejas autocéfalas ortodoxas), é sempre indispensável também o diálogo do amor fraterno e da recíproca aproximação, que já dura há vários anos, isto é, desde os tempos do Concílio Vaticano II. Certamente que este diálogo deve, mais ainda, reforçar-se e aprofundar-se. Deve encontrar sempre nova expressão externa. Deve, em certo sentido, tornar-se elemento integral dos programas pastorais de ambos os lados. A união só pode ser fruto do conhecimento da verdade no amor. E uma e outro têm de atuar lado a lado; separadamente não bastam, porque a verdade sem o amor não é ainda verdade plena, como o amor não existe sem a verdade.
 
Muito se pode esperar deste novo período das nossas iniciativas ecuménicas e depois das provas do benévolo apoio que, por ocasião da recente visita a Constantinopla, deram todos os Patriarcas ortodoxos ao Patriarca Dimítrios. Este, na qualidade de Patriarca «ecuménico», é o primeiro entre os outros.
 
Na moldura deste feliz encontro foram ainda trocadas ofertas muito eloquentes. O Patriarca ecuménico deu ao seu Hóspede uma antiga estola episcopal, pensando naquela Eucaristia que Deus clementíssimo talvez nos permita celebrar juntos, como tão ardentemente desejaram o Papa Paulo e o Patriarca Atenágoras. O outro presente, o que deixei em Constantinopla, foi um ícone da Mãe de Deus: Aquela com que me familiarizei em Jasna Gora e Czestochowa, desde os primeiros anos da minha juventude. Oferecendo-o, deixei-me guiar não só por motivos de natureza pessoal, mas também e sobretudo pela especial eloquência da história. O ícone claramontano (de Jasna Gora) encerra em si os traços sintomáticos que falam ao espírito do cristão tanto do Oriente como do Ocidente. Provém ainda daquela terra, em que se deu, no decorrer da história, o encontro destas duas grandes tradições da Igreja. E verdade que a minha Pátria recebeu de Roma o cristianismo e, ao mesmo tempo, a grande herança da cultura latina; mas também Constantinopla se tornou a fonte da cristandade e da cultura, na forma oriental, para muitos Povos e muitos Países Eslavos.
 
Manifestei já estas ideias durante a minha peregrinação à Polónia, em Junho passado. Assim, o nosso encontro no «Fanar», em Istambul, apresentou-se cheio de grandes problemas e profundos conteúdos. Interrogado por um dos jornalistas acerca das «impressões», disse eu que era difícil falar a tal respeito. E é-o verdadeiramente. Estamos noutra dimensão. Estamos e devemos ficar com o olhar fixo naquela efígie da Sabedoria, que nos fala do cimo do grande monumento do Bósforo. É uma efígie do Advento. E também nós apenas servimos a grande causa do Advento do Senhor.
Felizes de nós, se ao voltar o Senhor nos encontrar vigilantes (Cfr. Mt. 24, 46).
 
Esta intenção recomendei de modo particular entre as ruínas de Éfeso, onde a Virgem Maria, obediente da maneira mais profunda e mais simples ao Espírito Santo, foi proclamada solenemente pela Igreja «Theotókos», isto é, Mãe de Deus.
 
Fonte: vaticano.va
 
"Deus vos abençoe!!!"
Fundador Gleydson do Blog Verbo Pai

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