Uma Vocação "específica" à Santidade

Verbo Pai
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"O Espírito do Senhor está sobre mim" (Lc 4, 18). O Espírito não está simplesmente "sobre" o Messias, mas "enche-o", penetra-o, atinge-o no seu ser e operar. De fato, o Espírito é o princípio da consagração e da missão do Messias: "por isso me consagrou, e me enviou a anunciar a Boa Nova aos pobres" (Lc 4, 18). Em virtude do Espírito, Jesus pertence total e exclusivamente a Deus, participa da infinita santidade de Deus que O chama, elege e envia. Assim o Espírito do Senhor se revela fonte de santidade e apelo à santificação.

Este mesmo "Espírito do Senhor" está "sobre" a totalidade do Povo de Deus, que é constituído como povo "consagrado" a Deus e por Deus "enviado" para o anúncio do Evangelho que salva. Os membros do Povo de Deus estão "inebriados" e "assinalados" pelo Espírito (cf. 1 Cor 12, 13; 2 Cor 1, 21-22; Ef 1, 13; 4, 3), e chamados à santidade.

Em particular, o Espírito revela-nos e nos comunica a vocação fundamental que o Pai desde a eternidade dirige a todos: a vocação a ser "santos e imaculados na sua presença na caridade", em virtude da predestinação para "sermos seus filhos adotivos por obra de Jesus Cristo" (Ef 1, 4-5). Mais. Revelando e comunicando-nos esta vocação, o Espírito se torna em nós princípio e garantia da sua própria realização; Ele, o Espírito do Filho (cf. Gal 4, 6), conforma-nos a Jesus Cristo e nos torna participantes da sua vida filial, ou seja, do seu amor ao Pai e aos irmãos. "Se vivemos do Espírito, caminhemos segundo o Espírito" (Gal 5, 25). Com estas palavras, o apóstolo Paulo recorda-nos que a existência cristã é "vida espiritual", quer dizer, vida animada e guiada pelo Espírito em ordem à santidade e à perfeição da caridade.

A afirmação do Concílio: "Todos os fiéis de qualquer estado ou condição são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade" encontra particular aplicação no caso dos presbíteros: estes são chamados não só enquanto baptizados, mas também e especificamente enquanto presbíteros, ou seja, por um título novo e de um modo original, derivado do sacramento da Ordem.

Acerca da "vida espiritual" dos presbíteros e do dom e responsabilidade de serem santos, oferece-nos o Decreto Conciliar sobre o ministério e a vida sacerdotal uma síntese rica e estimulante: "Pelo sacramento da Ordem, os presbíteros são configurados a Cristo Sacerdote como ministros da Cabeça, para a construção e edificação do seu Corpo, que é a Igreja, na qualidade de colaboradores da Ordem episcopal. Já desde a consagração do Batismo, receberam , tal como todos os fiéis, o sinal e o dom de tão insigne vocação e graça, para que, mesmo na fraqueza da condição humana, possam e devam alcançar a perfeição, segundo quanto foi dito pelo Senhor: 'sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste' (Mt 5, 48). Mas os sacerdotes são especialmente obrigados a buscar esta perfeição, visto que, consagrados de modo particular a Deus pela recepção da Ordem, se tornaram instrumentos vivos do sacerdócio eterno de Cristo, a fim de prosseguirem no tempo a Sua obra admirável que restaurou com divina eficácia a humanidade inteira. Dado, portanto, que cada sacerdote, no modo que lhe é próprio, age em nome e na pessoa do próprio Cristo, ele usufrui também de uma graça especial, em virtude da qual, enquanto se encontra ao serviço das pessoas que lhe foram confiadas e de todo o Povo de Deus, possa alcançar de maneira mais conveniente a perfeição d'Aquele de quem é representante, e cure a debilidade humana da carne a santidade d'Aquele que por nós se fez pontífice 'santo, inocente, separado dos pecadores' (Heb 7, 26)".

O Concílio afirma, antes de mais, a vocação "comum" à santidade. Esta vocação radica-se no Batismo, que caracteriza o presbítero como um "fiel" (christifidelis), como "irmão entre irmãos" inserido e unido com o Povo de Deus, na alegria de partilhar os dons da salvação (cf. Ef 4, 4-6) e no compromisso comum de caminhar "segundo o Espírito", seguindo o único Mestre e Senhor. Recordemos o célebre dito de Santo Agostinho: "Para vós sou Bispo, convosco sou cristão. Aquele é o nome de um cargo assumido, este de graça; aquele é um nome de perigo, este um nome de salvação".

Com a mesma clareza, o texto conciliar fala também de uma vocação "específica" à santidade, mais precisamente de uma vocação que se fundamenta no sacramento da Ordem, na qualidade de sacramento próprio e específico do sacerdote, portanto por força de uma nova consagração a Deus mediante a ordenação. A esta vocação específica alude ainda o mesmo Santo Agostinho, quando à afirmação "para vós sou Bispo, convosco sou cristão" acrescenta as seguintes palavras: "Se, portanto, é para mim causa de maior alegria o ter sido resgatado convosco do que o ter sido posto à vossa frente, seguindo o mandato do Senhor, dedicar-me-ei com o máximo empenho a servir-vos, para não me tornar ingrato com Quem me resgatou por aquele preço que me fez servidor vosso e convosco".

O texto do Concílio vai mais além, pondo em destaque alguns elementos necessários para definir o conteúdo da "especificidade" da vida espiritual dos presbíteros. Trata-se de elementos que se relacionam com a "consagração" própria dos presbíteros, a qual os configura a Jesus Cristo Cabeça e Pastor da Igreja; com a "missão" ou ministério típico dos próprios presbíteros, que os habilita e compromete a serem "instrumentos vivos de Cristo eterno Sacerdote" e a agir "em nome e na pessoa do próprio Cristo"; com a sua "vida" inteira, vocacionada para manifestar e testemunhar de modo original a "radicalidade evangélica"

Texto extraído da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Pastores DABO VOBIS do Papa João Paulo II.

"Deus vos abençoe!!!"
Fundador Gleydson do Blog Verbo Pai

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