A luz da fé é a
expressão com que a
tradição da Igreja
designou o grande dom
trazido por Jesus. Eis
como Ele Se nos
apresenta, no Evangelho
de João: « Eu vim ao
mundo como luz, para que
todo o que crê em Mim
não fique nas trevas » (Jo
12, 46). E São Paulo
exprime-se nestes
termos: « Porque o Deus
que disse: "das trevas
brilhe a luz", foi quem
brilhou nos nossos
corações » (2 Cor
4, 6). No mundo pagão,
com fome de luz,
tinha-se desenvolvido o
culto do deus Sol,
Sol invictus,
invocado na sua aurora.
Embora o sol renascesse
cada dia, facilmente se
percebia que era incapaz
de irradiar a sua luz
sobre toda a existência
do homem. De facto, o
sol não ilumina toda a
realidade, sendo os seus
raios incapazes de
chegar até às sombras da
morte, onde a vista
humana se fecha para a
sua luz. Aliás « nunca
se viu ninguém — afirma
o mártir São Justino —
pronto a morrer pela sua
fé no sol ».
Conscientes do amplo
horizonte que a fé lhes
abria, os cristãos
chamaram a Cristo o
verdadeiro Sol, « cujos
raios dão a vida ». A
Marta, em lágrimas pela
morte do irmão Lázaro,
Jesus diz-lhe: « Eu não
te disse que, se
acreditares, verás a
glória de Deus? » (Jo
11, 40). Quem
acredita, vê;
vê com uma luz que
ilumina todo o percurso da
estrada, porque nos vem de
Cristo ressuscitado, estrela
da manhã que não tem ocaso.
E contudo podemos
ouvir a objeção que se
levanta de muitos dos
nossos contemporâneos,
quando se lhes fala
desta luz da fé. Nos
tempos modernos,
pensou-se que tal luz
poderia ter sido
suficiente para as
sociedades antigas, mas
não servia para os novos
tempos, para o homem
tornado adulto,
orgulhoso da sua razão,
desejoso de explorar de
forma nova o futuro.
Nesta perspectiva, a fé
aparecia como uma luz
ilusória, que impedia o
homem de cultivar a
ousadia do saber. O
jovem Nietzsche
convidava a irmã
Elisabeth a arriscar,
percorrendo vias novas
(…), na incerteza de
proceder de forma autônoma ». E
acrescentava: « Neste
ponto, separam-se os
caminhos da humanidade:
se queres alcançar a paz
da alma e a felicidade,
contenta-te com a fé;
mas, se queres ser uma
discípula da verdade,
então investiga ». O
crer opor-se-ia ao
indagar. Partindo daqui,
Nietzsche desenvolverá a
sua crítica ao
cristianismo por ter
diminuído o alcance da
existência humana,
espoliando a vida de
novidade e aventura.
Neste caso, a fé seria
uma espécie de ilusão de
luz, que impede o nosso
caminho de homens livres
rumo ao amanhã.
Por este caminho, a
fé acabou por ser
associada com a
escuridão. E, a fim de
conviver com a luz da
razão, pensou-se na
possibilidade de a
conservar, de lhe
encontrar um espaço: o
espaço para a fé
abria-se onde a razão
não podia iluminar, onde
o homem já não podia ter
certezas. Deste modo, a
fé foi entendida como um
salto no vazio, que
fazemos por falta de luz
e impelidos por um
sentimento cego, ou como
uma luz subjetiva,
talvez capaz de aquecer
o coração e consolar
pessoalmente, mas
impossível de ser
proposta aos outros como
luz objetiva e comum
para iluminar o caminho.
Entretanto, pouco a
pouco, foi-se vendo que
a luz da razão autônoma
não consegue iluminar
suficientemente o
futuro; este, no fim de
contas, permanece na sua
obscuridade e deixa o
homem no temor do
desconhecido. E, assim,
o homem renunciou à
busca de uma luz grande,
de uma verdade grande,
para se contentar com
pequenas luzes que
iluminam por breves
instantes, mas são
incapazes de desvendar a
estrada. Quando falta a
luz, tudo se torna
confuso: é impossível
distinguir o bem do mal,
diferenciar a estrada
que conduz à meta
daquela que nos faz
girar repetidamente em
círculo, sem direção.
Referencia:
Carta Encíclica Lumen Fidei do sumo Pontífice Francisco, 2013.
Fonte: Vatican.va
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Fundador Gleydson do Blog Verbo Pai
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