«Consumada a obra que o Pai tinha confiado ao Filho sobre a terra» (cf.
Jo 17, 4), no dia do Pentecostes foi enviado o Espírito Santo para santificar
continuamente a Igreja, e, assim, os que viessem a acreditar tivessem,
mediante Cristo, acesso ao Pai num só Espírito» (cf. Ef 2, 18). Este é o Espírito da vida, a fonte de água que jorra
para a vida eterna (cf. Jo 4, 14; 7,
38-39); é Aquele por meio do qual o Pai dá novamente a vida aos homens, mortos
pelo pecado, até que um dia ressuscite em Cristo os seus corpos mortais (cf.Rom 8, 10-11)».
É deste modo que
o Concílio Vaticano II fala do nascimento
da Igreja no dia de Pentecostes. Este acontecimento constitui a
manifestação definitiva daquilo que já se tinha realizado
no mesmo Cenáculo no Domingo da Páscoa. Cristo Ressuscitado veio e
foi «portador» do Espírito Santo para os Apóstolos. Deu-lho dizendo: «Recebei o
Espírito Santo». Isso que aconteceu então no interior do Cenáculo, «estando as
portas fechadas», mais tarde, no dia do Pentecostes, viria a manifestar-se
publicamente diante dos homens. Abrem-se as portas do Cenáculo e os Apóstolos
dirigem-se aos habitantes e peregrinos, que tinham vindo a Jerusalém por
ocasião da festa, para dar testemunho de Cristo com o poder do Espírito Santo.
E assim se realiza o anúncio de Jesus: «Ele
dará testemunho de mim: e também vós
dareis testemunho de mim, porque estivestes comigo desde o princípio».
Num outro
documento do Concílio Vaticano II lemos: «Sem dúvida que o Espírito Santo
estava já a operar no mundo, antes ainda que Cristo fosse glorificado. Contudo,
foi no dia de Pentecostes que ele desceu sobre os discípulos, para permanecer
com eles eternamente (cf. Jo 14, 16);
e a Igreja apareceu publicamente diante da multidão e teve o seu início a
difusão do Evangelho entre os pagãos, através da pregação».
O tempo da Igreja teve início com a
«vinda», isto é, com a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos, reunidos
no Cenáculo de Jerusalém juntamente com Maria, a Mãe do Senhor. O
tempo da Igreja teve início no momento em que as promessas e os anúncios, que tão explicitamente se referiam ao
Consolador, ao Espírito da verdade, começaram a verificar-se sobre os Apóstolos,
com potência e com toda a evidência, determinando assim o nascimento da Igreja.
Disto falam em muitas passagens e amplamente os Actos dos Apóstolos, dos quais nos resulta que, segundo a
consciência da primitiva comunidade — da qual São Lucas refere as certezas —
o Espírito Santo assumiu a orientação
invisível — mas de algum modo «perceptível» — daqueles que, depois da
partida do Senhor Jesus, sentiam profundamente o terem ficado órfãos. Com a
vinda do Espírito eles sentiram-se capazes de cumprir a missão que lhes fora
confiada. Sentiram-se cheios de fortaleza. Foi isto precisamente que o Espírito
Santo operou neles; e é isto que Ele continua a operar na Igreja, mediante os
seus sucessores. Com efeito, a graça do Espírito Santo, que os Apóstolos, pela
imposição das mãos, transmitiram aos seus colaboradores, continua a ser
transmitida na Ordenação episcopal. Os Bispos, por sua vez, depois tornam
participantes desse dom espiritual os ministros sagrados, pelo sacramento da
Ordem; e providenciam ainda para que, mediante o sacramento da Confirmação,
sejam fortalecidos com ele todos os que tiverem renascido pela água e pelo
Espírito Santo. E assim se perpetua na Igreja de certo modo, a graça do
Pentecostes.
Como escreve o
Concílio, «o Espírito Santo habita na
Igreja e nos corações dos fiéis como num templo (cf. 1
Cor 3, 16; 6, 19); e neles ora e dá testemunho da sua adopção
filial (cf. Gál 4, 6; Rom 8, 15-16. 26). Ele introduz a Igreja no conhecimento de
toda a verdade (cf. Jo 16, 13), unifica-a na comunhão e no ministério, edifica-a e
dirige-a com os diversos dons hierárquicos e carismáticos e enriquece-a com os
seus frutos (cf. Et 4, 11-12; 1 Cor 12, 4; Gál 5, 22). Faz ainda com que
a
Igreja se mantenha sempre jovem, com a força do Evangelho, renova-a continuamente e
leva-a à perfeita união com o seu
Esposo».
As passagens que acabamos de recordar, da Constituição Conciliar
Lumen Gentium, dizem-nos que, com a
vinda do Espírito Santo, começou o tempo da Igreja. Dizem-nos ainda que este
tempo, o tempo da Igreja, continua. Perdura através dos séculos e das gerações. No nosso século, neste período em que a humanidade
se tem vindo a aproximar do termo do segundo Milénio depois de Cristo, este
«tempo da Igreja» teve uma sua particular expressão no Concílio Vaticano II, como Concílio do nosso século. Sabe-se, com
efeito, que ele foi, de maneira especial, um Concílio «eclesiológico»: um
Concílio sobre o tema da Igreja. Ao
mesmo tempo, porém, o ensino deste Concílio é essencialmente «pneumatológico»:
impregnando da verdade sobre o Espírito
Santo, como alma da Igreja. Podemos dizer que no seu rico magistério o
Concílio Vaticano II contém praticamente tudo o «que o Espírito diz às Igrejas» em função da presente fase da história da salvação.
Seguindo como
guia ao Espírito da verdade e dando testemunho juntamente com Ele, o Concílio
ofereceu uma especial confirmação da
presença do Espírito Santo Consolador. Tornou-o, em certo sentido,
novamente «presente» na nossa época difícil. A luz desta convicção,
compreende-se melhor a grande importância de todas as iniciativas que têm em
vista a actuação do Concílio Vaticano II, do seu magistério e da sua linha
pastoral e ecuménica. É neste sentido que devem ser bem consideradas e
avaliadas as Assembleias do Sínodo dos
Bispos que se foram sucedendo e que tiveram em vista fazer com que os
frutos da Verdade e do Amor — os frutos autênticos do Espírito Santo — se
tornem um bem duradouro do Povo de Deus na sua peregrinação terrena ao longo
dos séculos. É indispensável este trabalho da Igreja, visando a avaliação e a
consolidação dos frutos salvíficos do Espírito, doados generosamente no
Concílio. Para alcançar este objectivo é necessário saber «discerni-los» com
atenção de tudo aquilo que, contrariamente, possa provir sobretudo do «príncipe
deste mundo». Este discernimento é tanto mais necessário, na
realização da obra do Concílio, quanto é um facto que este se
abriu de modo muito amplo ao mundo
contemporâneo, como o demonstram claramente as importantes Constituições
conciliares Gaudium et spes e Lumen gentium.
Lemos, com
efeito, na Constituição pastoral: «Eles (os discípulos de Cristo) são uma
comunidade de homens, congregados em Cristo e que são guiados pelo Espírito
Santo na sua peregrinação para o Reino do Pai; e são portadores de uma mensagem
de salvação, que devem comunicar a todos. É por isso que a mesma comunidade dos
cristãos se sente real e intimamente solidária
com o género humano e com a sua história». «A Igreja sabe muito
bem que só Deus, a quem ela serve, satisfaz os desejos mais profundos do
coração humano, o qual nunca se sacia plenamente só com os bens terrestres». «O Espírito de Deus... dirige
com admirável providencia, o curso dos tempos e renova a face da terra».
Texto extraído da Encíclica Dominum et vivificantem - Papa João Paulo II.
"Deus vos abençoe!!!"
Fundador Gleydson do Blog Verbo Pai