Solenidade dos Fiéis Defuntos

Verbo Pai
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"Exultei quando me disseram: iremos para a casa do Senhor". As palavras do Salmo 122, que há pouco cantamos, convidam-nos a elevar o olhar do coração para a "casa do Senhor", para o Céu onde está misteriosamente reunida, na visão beatífica de Deus, a multidão de todos os Santos que a liturgia nos fez contemplar há alguns dias. 

À solenidade dos Santos seguiu-se a comemoração de todos os Fiéis defuntos. Estas duas celebrações, vividas num profundo clima de fé e de oração, ajudam-nos a compreender melhor o mistério da Igreja na sua totalidade e a aperceber-nos cada vez mais de que a vida deve ser uma contínua expectativa vigilante, uma peregrinação rumo à vida eterna, cumprimento último que dá sentido e plenitude ao nosso caminho terreno. Às portas da Jerusalém celeste já "estão os nossos pés" (v. 2).

Nestes nossos venerados Irmãos apraz-nos reconhecer os servos dos quais fala a parábola evangélica há pouco proclamada: servos fiéis, que o dono, ao regressar das núpcias, encontrou acordados e preparados (cf. Lc 12, 36-38); pastores que serviram a Igreja garantindo ao rebanho de Cristo os cuidados necessários; testemunhas do Evangelho que, na variedade dos dons e das tarefas, deram provas de vigilância laboriosa, de dedicação generosa à causa do Reino de Deus. 

Cada celebração eucarística, em que tantas vezes também eles participaram primeiro como fiéis e depois como sacerdotes, antecipa do modo mais eloquente quanto o Senhor prometeu: Ele mesmo, sumo e eterno Sacerdote, fará sentar os seus servos à mesa e passará para os servir (cf. Lc 12, 37). Sobre a Mesa eucarística, banquete nupcial da Nova Aliança, Cristo, Cordeiro pascal faz-se nosso alimento, destrói a morte e doa-nos a sua vida, a vida sem fim. Irmãos e irmãs, também nós permaneçamos acordados e vigilantes: encontre-nos assim "o dono quando voltar das núpcias, chegando no meio da noite ou antes do alvorecer" (cf. Lc 12, 38). Então, também nós, como servos do Evangelho, seremos Bem-Aventurados!

"As almas dos justos estão nas mãos de Deus" (Sb 3, 1). A primeira leitura, tirada do livro da Sabedoria, fala de justos perseguidos, mortos injustamente. Mas se também a sua morte – ressaltava o Autor sagrado – se verifica em circunstâncias tão humilhantes e dolorosas que parecem uma desgraça, na realidade para quem tem fé não é assim: "eles estão na paz" e, mesmo se sofreram castigos aos olhos dos homens, "a sua esperança é cheia de imortalidade" (vv. 3-4). A separação dos próprios familiares é dolorosa, o acontecimento da morte é um enigma cheio de inquietude, mas para os crentes qualquer que seja o modo como acontece, está sempre iluminada pela "esperança da imortalidade".

A fé ampara-nos nestes momentos humanamente cheios de tristeza e de angústia: "Aos teus olhos a vida não é tirada mas transformada – recorda a liturgia – e enquanto se destrói a habitação deste exílio terreno, é preparada uma habitação eterna no Céu" (Prefácio dos defuntos). Queridos irmãos e irmãs, sabemos bem e experimentamos no nosso caminho que não faltam dificuldades nem problemas nesta vida, que existem situações de sofrimento e de dor, momentos difíceis de compreender e de aceitar. Mas tudo adquire valor e significado se for considerado na perspectiva da eternidade. 

De fato, cada prova, acolhida com paciência perseverante e oferecida pelo Reino de Deus, vem em nosso benefício espiritual já aqui na terra e sobretudo na vida futura, no Céu. Estamos de passagem neste mundo, provados como o ouro, afirma a Sagrada Escritura (cf. Sb 3, 6). Misteriosamente associados à paixão de Cristo, podemos fazer da nossa existência uma oferenda agradável ao Senhor, um sacrifício voluntário de amor.

No Salmo responsorial e depois na segunda leitura, tirada da primeira Carta de Pedro, encontramos como que um eco rs palavras do livro da Sabedoria. Enquanto o Salmo 122, retomando o cântico dos peregrinos que descem à Cidade santa e depois de um longo caminho chegam cheios de alegria às suas portas, projeta-nos no clima de festa do Paraíso, São Pedro exorta-nos, durante a peregrinação terrena, a manter viva no coração a perspectiva da esperança, de uma "esperança viva" (1, 3). 

Face ao inevitável dissolver-se do cenário deste mundo – escreve ele – é-nos dada a promessa de uma "herança que não se corrompe, não se mancha e não perece" (v. 4), porque Deus nos regenerou, na sua grande misericórdia, "mediante a ressurreição de Jesus Cristo dos mortos" (1, 3). Eis o motivo pelo qual devemos estar "repletos de alegria", mesmo se somos atormentados por vários sofrimentos. 

De fato, se perseverarmos no bem, a nossa fé, purificada de muitas provas, resplandecerá um dia em todo o seu esplendor e virá em nosso louvor, glória e honra, quando Jesus se manifestar na sua glória. Eis a razão da nossa esperança, que já nos faz exultar na terra "de alegria indizível e gloriosa", enquanto estamos a caminho rumo à meta da nossa fé: a salvação das almas (cf. vv. 6-8).

Texto do Papa Bento XVI com pequenas adaptações.

"Deus vos abençoe!!!"
Fundador Gleydson do Blog Verbo Pai

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