O domingo de hoje oferece-me de novo a possibilidade de encontrar-me com aquela
comunidade fundamental do Povo de Deus que é, na Igreja, uma paróquia. Este é
encontro "com a comunidade" e, ao mesmo tempo, encontro "na comunidade". De
facto, mediante a visita pastoral do vosso Bispo, encontrais-vos, em certo
sentido, naquela maior comunidade do Povo de Deus que é a Igreja Romana, a
Igreja "local", isto é, a Diocese. Ela é, ainda, a Igreja das Igrejas — se assim
se pode dizer — porque Roma, como Sé de São Pedro, constitui o centro de todas
as Igrejas "locais" do mundo, que mediante este centro se ligam e unem na
Comunidade universal da Igreja única. Assim, pois, o nosso encontro de hoje tem
contemporaneamente estas três dimensões: paroquial, diocesana e universal.
Oxalá sirva isto para reforçar o amor que São Paulo confessa e anuncia de modo
tão maravilhoso na liturgia de hoje.
No espírito deste amor, que é o vínculo da comunidade e a fonte da nossa unidade
— sobretudo com o próprio Deus em Cristo — saúdo-vos cordialmente, caríssimos
irmãos e irmãs, vindos de todas as partes do bairro, para testemunhar o vosso
afecto e a vossa devoção ao Papa. Saúdo também aqueles que participariam com
gosto neste encontro, mas foram detidos em casa ou pela enfermidade ou por
alguma obrigação inadiável. Confio-vos o encargo de lhes levar a minha saudação
e os meus votos.
Menção particular quero agora reservar para o Bispo Auxiliar, Dom Giulio Salimei,
que realizou com tanto zelo nos últimos dias a visita pastoral. Dele voa
espontaneamente o pensamento para o Pároco e para os outros Sacerdotes do
Presbitério, designados pelo Concílio como "cooperadores do Bispo" (Cfr. Decr.
Presbyterorum Ordinis, 2, 4 e 7): estes encontram-se no meio de vós para
construir uma Comunidade viva que, alimentando-se na mesa do Pão eucarístico e
da Palavra de Deus, saiba testemunhar Cristo com o exemplo da coerência pessoal
e do amor desinteressado.
Saúdo depois as Religiosas Baptistinas, que têm neste bairro uma florescente
Escala infantil e elementar: para elas vá a expressão do meu apreço pela
generosa dedicação às tarefas educativas e pela colaboração prática nas
iniciativas paroquiais. A minha saudação dirige-se também às personalidades das
Associações, dos Movimentos e dos Grupos catequísticos, que se esforçam por
animar cristãmente o meio dos jovens e dos adultos, favorecendo nuns e noutros
urna formação interior cada vez mais profunda e completa.
Uma especial palavra de Saudação desejava fazer chegar também àqueles que se
sentem psicologicamente afastados da Comunidade paroquial, diante da qual nutrem
sentimentos de indiferença ou talvez mesmo de hostilidade. Saibam eles que é
desejo do Papa, como dos Sacerdotes da Paróquia e de todos os outros ministros
de Deus, entabular com eles um diálogo que possa dissipar equívocos e permitir
melhor conhecimento recíproco e comunicação aprofundada sabre Cristo e o Seu
Evangelho.
2. Sem dúvida, a mensagem de Jesus está destinada a "criar problema" na vida de
todos os seres humanos. o que nos recordam também as leituras da liturgia de
hoje, e sobretudo o texto do Evangelho de Lucas ouvido agora mesmo. Leva-nos a
regressar com o pensamento às palavras que deixou na nossa memória a solenidade
de ontem. No momento da Apresentação de Jesus no templo, que se realizou
40 dias depois do Nascimento, o velho Simeão pronunciara a respeito do Menino as
palavras seguintes: está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel
e para ser sinal de contradição (Lc 2, 34).
Somos hoje testemunhas da contradição que encontrou Cristo logo no princípio da
Sua missão — na Sua Nazaré. Ouvi: quando, baseado nas palavras do profeta
Isaías, lidas de novo na sinagoga de Nazaré, Jesus deu a entender aos seus
conterrâneos que a predição se referia precisamente a Si — quer dizer, que era
Ele o preanunciado Messias de Deus (o Ungido no Poder do Espírito Santo) —
surgiu primeiro a admiração, depois a incredulidade e por fim os presentes
encheram-se de furor (Lc 4, 28), e concordaram na decisão de O lançar, de
O precipitar do monte, sobre o qual estava construída a cidade de Nazaré... Mas,
passando por meio deles, Jesus seguiu o seu caminho (Lc 4, 30).
E reparai que a liturgia de hoje — sobre o fundo deste acontecimento
faz-nos ouvir na primeira leitura a voz longínqua do Profeta Jeremias: Eles
combaterão contra ti, mas não vencerão, porque Eu estarei contigo para te
proteger (Jer 1, 19).
3. Jesus é o profeta do amor daquele amor que São Paulo confessa e anuncia nas
palavras, tão simples e ao mesmo tempo tão profundas, da passagem tirada da
Carta aos Coríntios. Para conhecer o que é o amor verdadeiro, quais as suas
características e qualidades, é necessário olhar para Jesus, para a Sua vida e o
Seu proceder. As palavras não exprimirão nunca tão bem a realidade do amor, como
o exprime o modelo vivo que Ele é. Até mesmo palavras, tão perfeitas na sua
simplicidade, como as da primeira Carta aos Coríntios, são apenas a imagem de
tal realidade: daquela realidade, isto é, daquilo de que encontramos o modelo
mais completo na vida e no procedimento de Jesus Cristo.
Não faltaram nem faltam, no decurso das gerações, homens e mulheres que imitaram
eficazmente este modelo perfeitíssimo. Todos somos chamados a fazer o mesmo.
Jesus veio sobretudo para ensinar o amor. Este forma o conteúdo do maior dos
mandamentos que nos deixou. Se aprendermos a praticá-lo, atingiremos a nossa
finalidade: a vida eterna. O amor, de facto, como ensinou o Apóstolo, nunca terá
fira (1 Cor 13, 8). Enquanto outros carismas, e também as virtudes
essenciais na vida do cristão, acabam juntamente com a vida, terrestre e deste
modo passam, o amor não passa, nunca tem fim. Constitui precisamente o
fundamento essencial e o conteúdo da vida eterna. E por isso maior é a caridade
(1 Cor 13, 13).
4. Esta grande verdade sobre o amor, mediante a qual trazemos connosco o
verdadeiro fermento da vida eterna na união com Deus, devemos nós associá-la
profundamente à segunda verdade da liturgia de hoje: o amor adquire-se no
trabalho espiritual. O amor cresce em nós e desenvolve-se mesmo entre as
contradições, entre as resistências, que lhe são opostas do interior de cada um
de vós, e ao mesmo tempo "de fora" isto é, entre as múltiplas forças que lhe são
estranhas e mesmo hostis.
Por isso escreve São Paulo que "a caridade é paciente". Não encontra ela acaso,
em nós, tantas vezes a resistência da nossa impaciência, e até simplesmente da
inadvertência? Para amar é preciso saber "ver" o "outro", é preciso saber "tê-lo
em conta". E preciso às vezes "suportá-1o". Se nos vemos apenas a nós mesmos, e
o "outro" "não existe" para nós, estamos longe da lição do amor que nos deu
Cristo.
"A caridade é benigna'", lemos em seguida: não apenas sabe "ver" o "outro", mas
abre-se para ele, procura-o e vai ao encontro dele. O amor dá com generosidade,
isto precisamente quer dizer: , "é benigno" (a exemplo do amor do próprio Deus,
que se exprime na graça)... Quantas vezes, todavia, não nos fechamos nós na
concha do nosso "eu", não sabemos, não queremos, não procuramos abrir-nos para o
"outro", dar-lhe alguma coisa do nosso próprio "eu", ultrapassando os limites do
nosso egocentrismo ou mesmo do egoísmo, e esforçando-nos por nos tornarmos
homens ou mulheres "para os outros", a exemplo de Cristo.
5. E assim por diante, relendo a lição de São Paulo sobre o amor, e meditando o
significado de cada palavra que o Apóstolo usou para descrever as
características desse amor, nós tocamos os pontos mais importantes da nossa vida
e da nossa convivência com os outros. Tocamos não só os problemas pessoais ou
familiares, isto é, os que têm importância do circulozinho das nossas relações
interpessoais, mas tocamos também os problemas sociais de primária actualidade.
Os tempos em que vivemos não constituem acaso perigosa lição daquilo em que
podem vir a parar a sociedade e a humanidade, quando a verdade evangélica sobre
o amor é tida por ultrapassada? quando é marginalizada pelo modo de ver o mundo
e a vida, pela ideologia? quando é excluída da educação, dos meios de
comunicação social, da cultura e da política?
Não é verdade que os tempos, em que vivemos, se tornaram já lição
suficientemente ameaçadora daquilo que prepara tal programa social?
E tal lição não poderá tornar-se ainda mais ameaçadora com o passar do tempo?
A este propósito, não têm já suficiente eloquência os actos de terrorismo que
sempre se vão renovando, e a tensão bélica crescente no mundo? Cada homem — a
humanidade inteira — vive "entre" o amor e o ódio. Se não aceita o amor, o ódio
encontrará fácil acesso ao seu coração e começará a invadi-lo cada vez mais,
produzindo frutos cada vez mais venenosos.
6. Da lição paulina, agora ouvida é necessário deduzir logicamente que o amor é
exigente. Exige de nós esforço, exige um programa de trabalho sobre nós mesmos —
assim como, na dimensão social, exige educação adequada, e programas adaptados
de vida cívica e internacional.
O amor é exigente. É difícil. É atraente, sem dúvida, mas é também difícil. E
por isso encontra resistência no homem. Resistência que aumenta quando actuam de
fora programas em que está presente o princípio do ódio e da violência,
destruidora. Cristo, cuja missão messiânica encontra, desde o primeiro momento,
a contradição dos próprios conterrâneos em Nazaré, reconfirma a veracidade das
palavras pronunciadas a Seu respeito pelo velho Simeão no dia da Apresentação no
templo: Ele está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser
sinal de contradição (Lc 2, 34).
Estas palavras seguem a Cristo por todos os caminhos da Sua experiência humana,
até à cruz.
Esta verdade sobre Cristo é também a verdade sobre o amor. Também o amor
encontra resistência, contradição. Em nós e fora de nós. Mas isto não nos deve
desanimar. O verdadeiro amor — como ensina São Paulo — tudo desculpa e tudo
suporta (1 Cor 13, 7).Caros irmãos e irmãs, sirva este nosso encontro de
hoje, ao menos em pequena parte, para a vitória deste amor; para ele caminha sem
descanso, entre as provações deste mundo, a Igreja de Cristo com o olhar fixo no
testemunho do Seu Mestre e Redentor.
Fonte: Vatican.va
"Deus vos abençoe!!!"
Fundador Gleydson do Blog Verbo Pai